domingo, 25 de novembro de 2007
"Domingo Triste" - a canção do suicídio
Menos conhecida é a história da canção húngara "Szomorú Vasarnáp", ("Gloomy Sunday", ou "Domingo Triste") escrita por Rezsö Seress lá por volta de 1925.
As editoras de músicas se recusavam a publicá-la, por ser triste e trágica de mais, tanto na letra como, principalmente, na melodia. Seress suicidou-se, sua mulher também e dizem que mais de uma centena de suicídios ocorreram tendo como causa direta o desespero dessa melodia. Casos como de uma secretária que foi encontrada envenenada, tendo nas mãos uma cópia da partitura. Durante a ocupação nazista de Budapest, foi proibida por ser o hino da tristeza causada pela repressão à alma húngara.
Como toda obra inspirada, a maioria das versões que encontramos hoje são "pioramentos" sobre a canção original, tanto na letra como na música. Há até uma versão bonita cantada por Billie Holiday e outra pela estrela do "Fantasma da Ópera". Mas nenhuma delas transmite e beleza trágica da arte do original de Seress.
Como eu, você não deve entender uma palavra de húngaro. Mas desafio a ouvir a versão cantada por Poká Angéla, acompanhada apenas por uma flauta em baixo registro. Asseguro que sentirá uma tristeza que aperta o coração e faz nascer lágrimas nos olhos. Bastam a música e a interpretação da artista. (clique no primeiro endereço abaixo. DICA: se o seu computador estiver vagaroso, acione a Pausa e espere que o YouTube baixe pelo menos metade da música, antes de ligar o Play, para evitar que a melodia fique entrecortada... )
O tema é a ausência de amor. Não de "um certo amor", mas a não existência de amor. Em certos versos, a tristeza vem das desgraças do dia a dia, guerras, mortes, um sofrimento que parece não ter remédio. Em outros, um poema chama alguém para que a veja morta na igreja, entre muitas flores, crepes, padres e cantos, e onde ela o espera de olhos abertos para vê-lo mais uma vez, mas não há nenhum lamento nem queixa, só muita tristeza. Tétricas e pungentes ambas as letras... Para sentir esta canção é preciso entrar nela, aceitá-la, re-viver o que seu autor viveu.
Anotei três endereços no YouTube onde as versões são mais próximas do original. Se o dia estiver como este domingo hoje (25/11/07), cuidado para não sucumbir à sugestão da tragédia. Mas a beleza vale o risco.
As outras versões têm menor qualidade, mas são mais autênticas, pois usam a partitura original do piano e do violino.
Endereços:
http://www.youtube.com/watch?v=LZZlvHPO2T4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=HAzJ_7CeWbc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=TiOyvxgcob4&feature=related
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
"Seven, that's the time we leave, at seven"
Ciência da Fé
domingo, 28 de outubro de 2007
Thermidor
Mas eu não sabia bem o que era "um Thermidor”. E fui aprender, como sempre faço.
A Revolução Francesa queria acabar com tudo que fosse tradicional e resolveu também melhorar o calendário, porque tinha nomes de imperadores e deuses romanos, como Marte (março), Saturno (sábado), Julio Cesar (julho), Augusto (agosto)... e criar meses de 30 dias exatos e semanas de 10 dias. Os dias da semana eram ordenados com os nomes de primidi, duodi, tridi... até o nosso domingo, que era decadi. E os meses eram descritivos de suas épocas, como Vendemiere, Brumaire, Frimaire, Nivôse, Pluviere, Ventose... obviamente ligados a neblina, frio, neve, chuva, vento, inclusive o de Thermidor, o mês do calor, o segundo mês da estação do verão. Os trinta dias do mês também tinham nomes individuais, de frutas, plantas, animais e outras coisas agrícolas. Assim, alguém poderia dizer: “nasci em uma quatridi, mangericão (dia 14) do mês de Fructidor”. Simples, não? Bem coisa de francês. Mas essa insanidade vigorou por 8 anos, (de 1793 até 1801) até a lucidez fazer voltar o antigo calendário gregoriano, mais bagunçado porém mais gostoso.
Ah! E a lagosta? Diz a lenda -- certamente falsa como toda a história francesa -- que foi Napoleão quem inventou. Dizem também que a melhor Thermidor é servida no “Café de Paris”, para quem quiser ir até lá conferir.
Para desmistificar em sua casa, se você puder comprar uma lagosta e souber prepará-la sem que vire estopa, vai aqui a receita genérica: farinha, manteiga, leite (um bechamel comum...), creme, gemas, champignons em fatias, estragão, mostarda, páprica, chalote (cebola roxa), caldo de peixe, queijo gruyére ralado (se quiser economizar use parmesão), sal e pimenta. O resto é arte. Ah, e a lagosta, óbvio, que deve ser cortada em duas partes, de comprido, temperada e assada em chapa até amolecer, retirada da casca, cortada em pedaços, coberta de molho e gratinada...
Se realmente levar a sério, é melhor entrar no site abaixo, que mostra passo a passo, com fotos, e em francês, é claro.
http://www.meilleurduchef.com/cgi/mdc/l/fr/recettes/homard_grat_ill.html
Bon appetit!
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Palmas para o autor
Kubrick é um caso típico, certamente um diretor genial. Mas, como teria feito “2001” sem a história de Arthur Clarke, que imaginou o computador HAL e mostrou o conceito das dimensões no tempo? E Kubrick é também capaz de fazer coisas ruins. Basta lembrar aquela coisa cansativa e grotesca chamada “Lolita”, que apesar da qualidade de atores como Shelley Winters e James Mason, virou um dramalhão piegas, enquanto a história original de Nabokov era emblemática e permitiria um filme muito mais inteligente e sério.
Todo mundo gostou do filme “Laranja Mecânica”, na verdade uma tradução incorreta e preguiçosa de “A Clockwork Orange”, “uma laranja de dar corda”, muito mais descritiva do personagem do filme, pois é uma expressão cockney “mais esquisito do que uma laranja de dar corda” que define uma pessoa que não bate bem. Não fosse a história de Anthony Burgess, onde o diretor iria encontrar aquele cenário de ambiente soviético, cenas cheias de termos em russo, e a figura do personagem central Alex, vivido por Malcolm McDowell, e a riqueza criativa da construção de cada um dos personagens?
Também a adaptação de boas obras destrói a essência da criação original. A forma mais danosa é a “atualização” de histórias clássicas, extirpando-as de seu ambiente natural e de seu tempo, trazendo-as para os dias de hoje, onde os conceitos culturais e morais nada têm a ver com a época em que foram escritas. No novo “Romeu e Julieta” a Verona medieval foi transmutada para Verona Beach, Califórnia, dos dias atuais. Como pode alguém aceitar a história de um amor proibido nesta época em que existe total acesso à informação e até liberdade de mais para jovens como aqueles, e quando a aprovação paterna é chamada de careta. O valor das obras de Shakespeare não está nos enredos e sim na linguagem. O que é admirável em Romeu e Julieta, Hamlet ou Macbeth, mais de que outro qualquer aspecto, é a força das linhas que os atores recitam, não os efeitos especiais nem as tentativas de roteiristas e diretores para melhorar o que não pode ser melhorado.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Racismo atávico
domingo, 14 de outubro de 2007
Explicando o “motto” deste blog
Essa citação é muitas vezes feita, também em latim, mas com texto diferente. Em documentos mais recentes, é fácil encontrá-la com a forma “entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem”, que quer dizer praticamente a mesma coisa, ou seja, que em ciência ou filosofia não se deve usar mais elementos do que o necessário para se explicar qualquer coisa.
O conceito, que é conhecido como “a navalha de Occam”, ou “Occam´s Razor”, ou ainda como o “princípio da parcimônia”, é do filósofo cristão, frade Guilherme de Occam (ou Ockham, que é o nome da cidade onde ele nasceu, no fim do século 13.
No fundo, significa apenas que se você quiser viajar de São Paulo para o Rio não precisa passar por Recife...
Segundo pude averiguar, a frase que epigrafa este blog é a única que é mencionada em documentos do próprio Frei Guilherme. As outras formas foram re-escritas por outros autores, bem mais modernos.
Quando li “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, cuja história também se passa no século 14, achei curioso que o frade Guilherme, que é uma espécie de detetive, tem muito em comum com Ockham, quando aplica seus princípios na busca da solução dos crimes no mosteiro. Mais curioso ainda é o fato de que o sidekick do frei Guilherme é um noviço chamado Adzo, nome muito parecido com o som de Watson, que era a caixa de ressonância do Sherlock Holmes. Em uma frase do livro Guilherme chega até a dizer: “...elementar, meu caro Adzo.” Certamente Humberto Eco estava fazendo uma pegadinha, ou um teste de erudição com seus leitores. Mas paro aqui para não comprometer o princípio da navalha.
Cá entre nós, Conan Doyle nunca escreveu essa famosa frase em nenhum livro de Sherlock Holmes.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Filosofia de samba
No espelho do meu quarto,
É que vejo a minha idade.
O retrato na sala,
Faz lembrar com saudade
A minha mocidade."
Samba de Wilson Batista e Sylvio Caldas, "Meus Vinte Anos".
Uma imagem tão precisa, tem tudo o que um bom poeta precisa ter para transmitir a "revivência" de um sentimento. Como dizia uma amiga: ... está perfeito, se passar flanela, estraga."
terça-feira, 9 de outubro de 2007
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Egoismo Racional - por falar em Ayn Rand
"My philosophy, in essence, is the concept of man as a heroic being, with his own happiness as the moral purpose of his life, with productive achievement as his noblest activity, and reason as his only absolute."
O pensamento de Ayn Rand faz muita falta hoje, nesta época de assistencialismo e premiação dos preguiçosos e oportunistas. Seus princípios se baseiam na valorização do pensamento humano, do esforço individual, sem esmolas, privilégios ou cerceamentos governamentais. Para ela, a ação do poder público deve-se restringir apenas ao policiamento, para que a atividade humana passe a se desenvolver sem interferências. Era defensora radical do livre capitalismo e da individualidade.
Se encontrarem algum livro de Ayn Rand em uma livraria ou sebo, comprem. Eu os tinha todos, mas pouco a pouco fui emprestando (obviamente contra os princípios dela) até perdê-los. Não é essencial seguir sua filosofia, mas é certamente indispensável conhecê-la.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
O fim do papel?
Ainda tenho em casa discos de massa de 78 rotações, “long-plays” de vinil, fios e fitas magnéticas, cassetes, discos floppy de computador de 8 e de 5 polegadas. São agora curiosidades tecnológicas porque não tenho mais os dispositivos que dariam acesso ao seu conteúdo. E os meus filmes em 8, super-8 e 16mm? Tenho ainda 3 projetores Carroussel Kodak que eram um luxo na minha época de executivo¸ e centenas de slides, trambolhos que eu nem tento rever, pois já não existem as lâmpadas certas nem outros acessórios,
Hoje tudo isso são informações quase totalmente perdidas, pela dificuldade em se conseguir dispositivos que as reproduzam. O disquete de 3,5 está em seus últimos estertores e os CDs e DVDs já cedem lugar às vantagens das memórias flash e outras tecnologias que aparecem a cada mês nas colunas do Scientific American.
Mas o papel ainda é o rei absoluto. Os papiros dos primeiros livros das religiões, as catilinárias de Cícero, a Carta Magna, os contos de Canterbury e a Carta de Caminha estão aí por que foram registrados em meios simples e duradouros.
O fato é que o que não ficar em papel vai ser esquecido, pois os novos meios de registro têm tempos de influência cada vez mais efêmeros.
É claro que haverá registro dos documentos e dos acontecimentos de maior importância, política, guerra, que sempre serão re-gravados nos novos meios.
Mas, e a notícia pequena? O atropelamento do operário? E o poema que sua netinha de 10 anos escreveu? Aquele lindo desenho que ela fez e que vai sumir na hora em que você desligar o Paint? Você não vai mais encontrar daqui a 20 anos no fundo de uma mala ou perdido dentro de um livro como uma flor seca. Tesouros nunca serão re-descobertos, notícias nunca serão relembradas.
Abra um jornal amarelado de cem anos atrás, leia sobre o novo filme de Greta Garbo no Cine Alhambra e o lançamento do novo modelo A da Ford por três contos de réis. Veja as páginas de moda, com aqueles vestidos pesados e chapéus gigantescos no Jornal das Moças. Está tudo no papel. E mais e mais a cada dia, per omnia secula... Não esquece nada, nem escolhe o que deve ficar.
O jornal impresso é o único registro do dia a dia em todos os lugares do mundo. As notícias do rádio e TV morrem momentos após serem divulgadas. Só o livro, o jornal são perenes e você não precisa ter toca-discos, projetor, ou computador para consultá-los.
Basta seus olhos.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Quem descobriu o Brasil?
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Pecunia non olet
O que pode cheirar mal é o uso do dinheiro. Dinheiro pode vir da exploração dos infelizes, mas pode salvar vidas, dar comida e educação a quem precisa. Mesmo que sua origem imediata tenha sido ilegal ou criminosa. No momento em que um ato se transforma em dinheiro, este torna-se redimido e tanto faz se vier de um óbolo doado a uma igreja ou extorquido em um sequestro sangrento. Difícil aceitar?
domingo, 30 de setembro de 2007
Cortesia natural
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
domingo, 23 de setembro de 2007
Retirement blues
Sou péssimo aposentado. Não gosto de dormir de dia, não gosto de dança de salão, não gosto de jogar vôlei letárgico com outros velhos e, principalmente, detesto conversar fiado. Meu reino por um emprego!
Descanso dos poetas
18.9.07
No Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, repousam, perto um do outro, Camões e Fernando Pessoa. Separados apenas por alguns metros de chão e cinco séculos de tempo.
Abaixo a simetria
Toda a riqueza da diversidade nasce nas fronteiras, naquela linha imaginária, física ou filosófica, que separa um sistema de outro. Na natureza não existe ruptura absoluta e sim, uma mudança de estado. É assim na forma como os seres marinhos vieram para a terra firme, como o vácuo faz divisa com a pressão do ar, como a água pode ter superfície. Mas o mesmo acontece também com os pensamentos, atitudes, personalidades, religiões. A vida existe realmente apenas nessas estreitas margens. O mundo não existiria se fosse perfeito, regular, exato, simétrico e puro. O mundo não existiria sem o caos. Por que afinal exaltamos tanto aqueles atributos?