domingo, 6 de abril de 2008

O Blog de Clarice Lispector

Encontrei, empoeirado em uma prateleira da estante, um livro de Clarice Lispector, um pesado volume de 780 páginas. Lembrei-me que nunca o li inteiro.
Chama-se “A Descoberta do Mundo” e se não fosse coisa do tempo da máquina de escrever, poderia muito bem passar hoje por um blog, desses em que as matérias acumulam, crescem, evoluem e adquirem arquitetura sólida e bem maior do que a soma de seus pedaços.
São crônicas e outras matérias, que ela escrevia para o Jornal do Brasil desde os anos ‘70, entrevistas, contos, noveletas e pensamentos soltos, observações do cotidiano das ruas, de sua casa, seus filhos, coisas universais e coisas pessoais, até às vezes quase íntimas.
Ela dizia que “escrever é uma maldição” mas nunca acreditei que sentisse isso de verdade. Uma de suas pequenas mensagens é um pedido aos linotipistas, para que não corrijam o que ela escrever: “A pontuação é a respiração da frase, e minha frase respira assim”.
Era capaz de fazer cada leitor reviver emocionalmente suas experiências como se fosse ela mesma, e isso é a essência da arte. Cada texto dela é uma aula de redação.
Vou procurar um espanador e ver se consigo encontrar mais algum livro dela perdido na desorganização de minhas prateleiras. É uma benção ter uma memória que esquece certas coisas, e permite assim que a gente as descubra de novo e volte a saborear mais uma vez o prazer de ler um texto bom.

2 comentários:

SV disse...

Seus dois livros estão comigo e estou tão impregnada de vontade de lê-los que posso senti-los aqui nas minhas mãos à medida que digito. Assim que eu me estabilizar, concretizarei aquelas páginas entre meus dedos. E quero ver este blog de Clarice, dia 05/05: minhas férias estão confirmadas.

Gostei da palavra comovente às 17:55 do meu relógio. Foi um dos dias mais longos da minha vida.

Keiko disse...

Eu adoro esse livro. A Descoberta do Mundo. Nunca o terminei, como faco muito. Mas adoro o que li.